As boas mulheres da China - Vozes ocultas
Xinran
Ano: 2002
Páginas: 252
ISBN: 8535910743
Páginas: 252
ISBN: 8535910743
Editora: Companhia de Bolso
Pontuação: ♥♥♥♥♥
Entre 1989 e 1997, a jornalista Xinran entrevistou mulheres de diferentes idades e condições sociais, a fim de compreender a condição feminina na China moderna. Seu programa de rádio, 'Palavras na brisa noturna,' discutia questões sobre as quais poucos ousavam falar, como vida íntima, violência familiar, opressão e homossexualidade. Xinran colheu inúmeros relatos de mulheres em que predomina a memória da humilhação e do abandono - estupros, casamentos forçados, desilusões amorosas, miséria e preconceito. São histórias como as de Hongxue, que descobriu o afeto ao ser acariciada não por mãos humanas, mas pelas patas de uma mosca; de Hua'er, violentada em nome da 'reeducação' promovida pela Revolução Cultural; da catadora de lixo que impôs a si mesma um ostracismo voluntário para não envergonhar o filho, um político bem-sucedido; ou ainda a de uma menina que perdeu a razão em conseqüência de uma humilhação intensa.
Sabendo do meu amor completo por jornalismo e feminismo, uma amiga me indicou e emprestou o livro (obrigada Mari!!). Devorei as páginas em um dia, e quando o último ponto final fez sua aparição eu sentia que precisava compartilhar essa narrativa com o máximo de pessoas possíveis. Primeiro, As boas mulheres da china é um livro ferozmente pesado. A delicadeza sutil que a autora usa em sua narrativa faz bem seu papel de amenizar a dor e o sofrimento que o livro traz em sua constituição. Mas a dor contida nos relatos de mulheres reais precisa – e é – sentida em cada palavra.
Xinran, uma jornalista chinesa, apresentadora de um programa de rádio pioneiro em “assuntos femininos” vive em uma sociedade moldada por costumes patriarcais, que foi assolada pelas inúmeras revoltas e revoluções que ocorreram no país no contexto dos anos 60. A feminilidade começa a ser discutida, mesmo que todo o aspecto midiático sofra com forte censura do Partido. E é por meio de palavras na brisa noturna, que Xinran passa a se questionar sobre “o quanto vale uma mulher chinesa”.
Os relatos coletados pela jornalista durante anos se transformam, então, nessa obra forte, tal qual as mulheres que representa. São histórias de violência, humilhação, estupros, dores e feridas que não cicatrizam com o tempo. Saber que cada capítulo é verdadeiro, que cada gota de sofrimento é real, dói de um modo inexplicável. Houve momentos em que tudo o que eu queria era largar o livro, por puro medo do efeito que teria sobre mim, mas não consegui me obrigar a abandonar Xinran e as mulheres que o mundo esqueceu. Dói sentir. Dói se identificar. Dói conhecer essas histórias e essas mulheres que por anos foram consideradas "mulheres más".
Acho que nunca seria capaz de traduzir tudo o que senti com esse livro, e nem me atreveria a tenta-lo. Portanto, apenas digo que é um livro pesado, com toda a delicadeza e força que só mulheres sabem ter. É uma leitura cheia de lágrimas, de apertos no coração, e de compreensão silenciosa. São histórias de mulheres que sofrem, que choram e que amam.