Afoga-te, em culpas que não lhe pertencem

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Olho para o espelho e vejo a garota frágil, com os olhos inchados e a expressão cansada de quem não consegue ver a luz na escuridão que a vida tomou. Sofro quando percebo que toda a esperança, os sonhos, a vontade, ao luz que antes brilhava no fundo dos meus olhos se foram, deixando para traz apenas o fantasma de uma vida a muito levada. Você me abriu, me desmontou e esqueceu-se de arrumar os pedaços. E hoje, eu tenho nojo da pessoa em que você me transformou.

Um dia eu fui feliz. Eu amei quem era, amei meu corpo, amei minha realidade. Um dia eu tinha todas as escolhas na palma de minha mão, e podia me orgulhar de fazê-las. Um dia eu fui a dona de minhas decisões, meu não significava não e meu sim significava sim. Um dia eu fui respeitada, amada e cuidada. Não havia quem diminuísse minhas palavras, que arruinasse meu ser. Um dia, eu não tinha vergonha de olhar para o passado. Não me culpava por não ter gritado alto o suficiente, por não ter lutado mais bravamente. Um dia eu ainda era uma criança inocente, esperando o amor me bater à porta. E me achava digna de tal sentimento.

Então você veio. Ignorou meus olhos e olhou para meu corpo. Fez pouco de minha inteligência e me mostrou como estava errada de todas as formas. O grande amor que eu tanto esperava não significava absolutamente nada para você. Minha ingenuidade te trouxe o mais negro dos desejos, e tomado por ele você quis ser quem acabaria com a inocência que brilhava em meu eu. Aos poucos, você foi abalando minhas certezas, me fazendo duvidar do que sentia, do que escolhia. Exagerada, louca, burra, feia. Jogou minha autoestima para os cães e eu acreditei que tudo o que você fazia era mais do que merecido. Até o dia em que você tentou me fazer duvidar da veracidade do meu não. Quando me roubou as escolhas, tapou os ouvidos para minhas negativas e se fez de desentendido para minhas súplicas. Destruiu-me em pouco tempo, e nada sobrou da princesa que antes era motivo de orgulho.

E eu fui obrigada a me reconstruir. Sob uma dura camada de culpa eu juntei os cacos espalhados pelo concreto. E você, quando viu que a inocência havia se perdido em meu olhar, se foi. Sem nem ao menos se despedir. Em seu lugar, apenas a dor e culpa me fizeram companhia. Devia ter sido mais dura em meu não. Devia ter gritado mais, esperneado mais, lutado mais. Devia ter feito alguma coisa. Eu devia ser menos fácil. Afinal, mesmo negando, era o que eu realmente queria, você disse.

Agora, sobrou o nojo. De quem sou. Do que deixei acontecer. Da sujeira que me atormenta. De mim. De você. Do passado. Sobrou também o medo. De que aconteça de novo. De que eu nunca seja capaz de me perdoar. De que alguém descubra. Do que dirão de mim. Da decepção, do ódio, dos dedos apontados. Para mim, a vida se divide em antes, e depois de você.

Hoje você está com uma nova garota. Uma nova coitada que você diz amar. Você vai contar a ela o que fez comigo? Ou vai esconder-se acreditando que o que fez não passa de coisa de adolescente? Mas pra mim, não foi uma brincadeira boba. Pra mim, destruiu o futuro brilhante que sonhei. Me encheu de medos, traumas, dores psíquicas. Pra mim, foi o fim da história.

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